Antes mesmo da chegada do inverno, ondas de frio têm sido registradas em diversas partes do Brasil. Em Maria da Fé, município do Sul de Minas que é conhecido pelas baixas temperaturas e pela produção de azeites de oliva, pesquisadores e produtores acompanham com atenção a evolução do frio, essencial para a formação dos frutos da oliveira.
Agora a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) conta uma novidade para auxiliar o trabalho da olivicultura no Campo Experimental de Maria da Fé, com o funcionamento da primeira das três estações meteorológicas projetadas para a unidade, financiadas com recursos de dois projetos de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
A estação meteorológica entrou em funcionamento em maio e permite acompanhamento de dados climáticos em tempo real. “O objetivo é estudar a fisiologia de cultivares de oliveira em condições climáticas contrastantes para entender como as árvores respondem a esses ambientes variados”, explica Pedro Moura, coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Epamig.
Os projetos “Impulsionamento das cadeias produtivas de azeite e frutas temperadas no sul de Minas Gerais” e “Avaliação de parâmetros fisiológicos da oliveira: impactos climáticos e perspectivas para a produção de azeite no sul de Minas Gerais” foram aprovados recentemente.
Os trabalhos contam com a participação de profissionais das universidades federais de Lavras (Ufla), Itajubá (Unifei) e Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Além disso, a equipe engloba bolsistas em ciência, tecnologia e inovação, além de estudantes de graduação e pós-graduação nas pesquisas.
“Os professores contribuirão com conhecimento técnico em áreas específicas do projeto. Os pomares experimentais, unidades demonstrativas e laboratórios das universidades poderão ser utilizados, em conjunto, para análises e levantamento de dados experimentais”, acrescenta Moura.
Importância do Frio para a Olivicultura
O frio é crucial para a indução floral e a produção da oliveira. “O inverno é um período em que a planta tem uma redução do seu metabolismo. Esse acúmulo de horas de frio induz uma maior carga floral, que pode resultar numa maior produção de frutos”, descreve Pedro Moura.
Compreender como as variações climáticas influenciam o crescimento, desenvolvimento e a produção da cultura é a prioridade das pesquisas em andamento. Para isso, serão considerados parâmetros como variações de temperatura e precipitação pluviométrica em cada fase fenológica nas quatro estações do ano.
“Esses dados são fundamentais para calibrar modelos de crescimento e produção de plantas, bem como para prever como as mudanças climáticas podem impactar a cultura, auxiliando os agricultores na tomada de decisões”, complementa Moura.
Estação Meteorológica e suas Funções
A Estação Meteorológica em funcionamento é uma ferramenta avançada. Ela coleta dados abrangentes sobre temperatura, umidade, precipitação e outros fatores climáticos. Essa capacidade de monitoramento em tempo real possibilita que os pesquisadores tenham acesso imediato a informações que podem impactar a qualidade e a quantitativa da produção de azeite de oliva.
Com a integração de tecnologia e pesquisa, os dados coletados também visam a construção de cenários futuros que avaliem a sustentabilidade da olivicultura na região em tempos de mudanças climáticas. O uso dessas informações é vital para a criação de estratégias que mitiguem os efeitos prejudiciais da variabilidade climática.
O Papel das Universidades e a Inovação na Pesquisa
A colaboração entre a Epamig e as universidades é um exemplo de como a pesquisa pode alavancar setores produtivos. Os estudantes envolvidos nas pesquisas não só possuem a chance de aplicar seus conhecimentos na prática, mas também participam da construção do conhecimento técnico na área de olivicultura.
Essa sinergia entre teoria e prática fomenta um ambiente de aprendizado contínuo e inovação. Os professores e pesquisadores atuam como mentores, guiando os alunos em uma experiência de aprendizado que pode fazer a diferença no futuro da olivicultura.
O compartilhamento de experiências e a troca de conhecimentos entre as instituições fortalecem ainda mais o desenvolvimento regional. Além disso, abre portas para novas oportunidades de pesquisa e parcerias que podem surgir a partir de resultados positivos obtidos nesses estudos.
Desafios e Perspectivas da Olivicultura no Brasil
A olivicultura no Brasil enfrenta desafios significativos. Um dos principais é a necessidade de adaptação às condições climáticas locais, que podem ser bastante diferentes das origens mediterrâneas das oliveiras. A pesquisa focada em como as variedades de oliveira se comportam em condições de clima tropical e subtropical é fundamental.
Além das questões climáticas, o mercado de azeite de oliva ainda está em desenvolvimento no Brasil. Os consumidores estão cada vez mais interessados em produtos de qualidade, mas o conhecimento sobre azeite e suas qualidades ainda é limitado em muitas regiões do país. A pesquisa e a educação sobre o tema são essenciais para impulsionar a aceitação e o consumo do produto.
As pesquisas também devem considerar as práticas de manejo sustentável, visando não apenas a quantidade, mas também a qualidade do azeite produzido. A eficiência na utilização dos recursos hídricos e a prática da agricultura regenerativa são tópicos que ganham cada vez mais destaque no cenário atual.
O Impacto das Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas estão trazendo novos desafios para a agricultura como um todo. No contexto da olivicultura, essas mudanças podem afetar o ciclo de vida das plantas, a incidência de pragas e doenças, além da produtividade das lavouras. É imprescindível que a pesquisa se direcione para a identificação de variedades mais resistentes.
Modelos climáticos preveem alterações nas temperaturas e padrões de precipitação que podem influenciar diretamente a produção. Portanto, o monitoramento das condições climáticas se torna uma ferramenta indispensável para os produtores. A adaptação das técnicas de cultivo e o manejo adequado da lavoura são aspectos que podem ajudar a minimizar os impactos negativos das mudanças climáticas.
Essa adaptação envolve a utilização de técnicas inovadoras e o desenvolvimento de variedades de oliveira que sejam mais resilientes. Ademais, a conscientização dos agricultores sobre a importância da pesquisa e da utilização de dados precisos pode resultar em mudanças significativas nas práticas agrícolas.
O Futuro da Olivicultura em Maria da Fé
Com a implementação da nova estação meteorológica e os esforços colaborativos entre diversas instituições, o futuro da olivicultura em Maria da Fé parece promissor. A capacidade de monitorar e responder às condições climáticas em tempo real pode significar um avanço significativo na produção de azeite de oliva na região.
À medida que mais informações se tornam disponíveis, será possível otimizar o manejo das lavouras, resultando em melhorias na produtividade e na qualidade do azeite. Essas inovações não apenas beneficiarão os produtores locais, mas também contribuirão para a consolidação do Brasil como um player no mercado global de azeite de oliva.
Ao mesmo tempo, a continuidade da pesquisa acadêmica e a formação de novos profissionais na área de olivicultura garantirão que a olivicultura seja cada vez mais sustentável e adaptada às realidades ambientais do Brasil.